Um dia de luta por um lugar na roça e no roçado

Sunderhus; Adolfo Brás1

Machado; Thanany Dario2

 

Não só 17 de abril. Todo dia vivemos um dia de luta e de luto.
Apesar de tudo esta data nos traz a poesia de uma música de Chico Buarque – Assentamento: que nos diz: “quando eu morrer...cansado da guerra...morro de bem...com a minha terra...”.

 

Assim lembramo-nos do “massacre de Eldorado Carajás”, que ocorreu em 1996 e resultou no assassinado de 19 trabalhadores sem-terra em um conflito pelo acesso a ela, marcando o início da luta dos camponeses em busca do respeito e reconhecimento de seus direitos.

Ainda vemos esta luta presente em cada pedaço de chão até hoje, no ir e vir dos conflitos ainda tão presentes, em cada rosto suado e cansado, em cada mão calejada pelo trabalho que desde 1530, quando da criação das capitanias hereditárias e das sesmarias tinha como prática a distribuição de privilégios a poucos e grandes detentores da terra, explorando a mão de obra de centenas de homens e mulheres, naquela época, corriqueiramente ditos escravos.
Tal realidade, ainda que secular, continua sendo imposta às famílias da roça, com uma nova roupagem, todavia com a mesma ou até maior violência. Aliás, diversas são estas violências.


O que aqui se quer destacar é a organização e a luta pacifica dos movimentos sociais da roça, que atualmente enfrenta seus dilemas e desafios, a cada momento superado, caminhando para uma organização refletida em uma força que pulsa forte, alimentada pelo Grito da Terra e pela Marcha das Margaridas.
Esses, trabalhadores e mulheres, entendem a roça e lá querem ficar. Para isso buscam mesmo historicamente negados os seus direitos, mesmo que precisem como dizem alguns (mas) “perturbar a sociedade em seu sossego”, ao se lançarem de forma organizada neste objetivo.
É preciso reconhecer que o assentado agricultor é um cidadão produtor de alimentos que são ofertados pelo menos três vezes ao dia aos que se encontram na cidade, portanto, investir naqueles (as) que buscam a terra para esse fim é respeitar tanto a terra como ao homem e a mulher que nela vivem, e que buscam somente ser feliz com sua família.


Dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás e cofundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) era categórico ao afirmar: “a luta pela reforma agrária, não se trata de uma questão de conseguir apenas um pedaço de chão, mas de mudar nosso país. A luta é profunda, ampla e de mudanças”.
No presente momento as conquistas dos que precisam da terra e querem nela trabalhar estão ameaçadas, como sempre por decisões áridas do entendimento jurídico do que é o objetivo da reforma agrária, ferindo em um golpe brutal a busca pelo direito de utilizar a terra, não por ela apenas, mas pelo que ela representa social e economicamente.
Erros existem em todas as proporções. É preciso sim serem feitas as correções devidas, mas sem negar a importância social, econômica, produtiva e ambiental desta política pública. A ação rigorosa deve ter a capacidade de propor e agir sem ferir, sem roubar o sonho, à vontade e a felicidade de mais uma família rural.
Esse abandono chega a tal ponto que o projeto educacional para o campo no Estado do Espírito Santo está destruindo os sonhos das famílias rurais, pois de forma irresponsável “fecharam as portas e derrubaram as paredes” das escolas localizadas no campo, colocando por chão e negando ao menino e a menina da roça a esperança de crescer com uma educação dentro de sua realidade.


Os processos de organização social para construção de políticas públicas para o meio rural estão fragilizados, organizações sociais governos e sociedade, acham que está tudo pronto, mas o que falta é entender que todos e todas que vivem lá na roça e do seu roçado devem ser os protagonistas desta história, e não espectadores.
Mais que uma utopia, buscar melhores dias para os homens e mulheres que buscam e/ou vivem na roça é uma realidade, recheada de sonhos, mas também de luta, cujo objetivo nada mais é que encontrar paz e assento para sua família e assim encontrar a felicidade.


Por isso e, em lembrança aos que jaz em Eldorado Carajás e aos que, pela lembrança deles, continuam no aguerrido labor de buscar serem compreendidos e aceitos pelo Governo e pela Sociedade, mais uma vez nos curvamos à poesia do maestro Chico Buarque de Holanda em Fantasia.


“e se de repente…a gente não sentisse...a dor que a gente finge...e sente...se, de repente...a gente distraísse...o ferro do suplício...ao som de uma canção...então eu te convidaria...pra uma fantasia...do meu violão. ”

 

1.Engenheiro Agrônomo

CREA – ES 2146 D / 11ª Região

Coordenador Executivo da FASER

Federação Nacional dos Trabalhadores da Assistência Técnica da Extensão Rural e do Serviço Público Agrícola do Brasil

 

2.Advogada

OAB/ES Nº 11.116

Graduação em Direito – UVV, Vila Velha – ES.

 

 

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